quinta-feira, 1 de abril de 2010

Artigos - 29 de Março

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O FIM DO CATOLICISMO?

Predizer e desejar a morte da mãe do outro enquanto ele é convidado a aceitar a nossa mãe como sua é desvio de conduta. O mesmo desvio cometem os que, membros de uma igreja de menos de 1 milhão de fiéis, desejam e anunciam o fim de uma igreja com 1 bilhão e duzentos milhões e convidam os fiéis da Igreja que se deseja morta a virem adorar com eles. Equivale a dizer: somos poucos, mas somos os melhores. Depois de Jesus e da sua proposta de fraternidade não há como aceitar semelhantes arroubos.

Corre, pela Internet, uma “profecia” que anuncia para breve o fim do catolicismo romano. Mais uma agressão a nós que, mesmo acreditando em ecumenismo, de vez em quando somos obrigados a ouvir tais rompantes e ainda ver pregadores a chutar com desprezo as nossas imagens e fiéis a quebrá-las em pleno santuário dedicado à memória da mãe do Cristo.

Dirão que alguns católicos também os ofendem, o que infelizmente é verdade e altamente condenável. Mas nada disso justifica o comportamento desses cristãos irados. Nem dos de cá nem dos de lá. A imensa maioria jamais diria ou faria tal coisa. São cristãos sensatos.

A profetiza que anunciou o fim dos católicos foi entusiasticamente aplaudida pelos fiéis presentes. Andou “bombando” na Internet. Na verdade ela apenas repete o que milhares de pregadores antes dela fizeram por razões ideológicas, religiosas ou políticas. Mas o catolicismo não acabou e os corpos dos tais profetas, se ainda existem, estão em algum túmulo esperando a ressurreição na companhia do filósofo Voltaire que também propunha que a “infame” fosse esmagada. Ele também queria o fim do catolicismo. O fim dele veio muito antes e parece que nem mesmo existe uma igreja voltairiana. Sua ira não colou!

Católicos de hoje são proibidos de querer o fim das outras igrejas. Encíclicas como a “Ut Unum Sint” de João Paulo II, deixam claro que agressões e ofensas como as do tempo da reforma e da contra ficaram para trás. Os livros daquele tempo vazavam ódio, tudo em nome da verdade mais verdadeira. É triste e é triste ler. Continua triste ver e ouvir algumas pregações que garantem que nossa Igreja será derrotada. Aos católicos não é permitido falar dessa forma. Sei disso porque leciono Pratica e Crítica de Comunicação nas Igrejas. Católico que falasse do jeito daquela pastora no mínimo será chamado às falas pelo seu bispo. Não é por aí que se evangeliza. Alguém diga isso àquela profetiza. Se queria nos ofender, conseguiu! ( Mt 5,22; 7,2)



O CRISTO QUE DESCE

Entre os cristãos vigora a mística da kênosis. Tem a ver com descida, esvaziamento, descer ao abismo com a vítima para trazê-la à superfície. Não é descer uma corda de lá de cima e puxá-la. É mais. É descer com a corda, amarrar a vítima ao próprio corpo, já que ela não tem forças, nem mesmo para agarrar a salvação. Fazem isso bombeiros, marinheiros e outros salva-vidas.

Para nós, cristãos, o verdadeiro Cristo é aquele que desceu para resgatar o pecador e subiu levando o pecador ao ombro, deixando lá em baixo o pecado que o prendia. O Evangelho de João (3,13) e Paulo magistralmente ensinam isso. Dizia Paulo : Achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. (Fp 2, 8) Em Gálatas 3,13 ele torna a falar dessa descida, a ponto de Jesus aceitar uma situação de maldição para dar sentido às cruzes do cotidiano. Morrer pelos outros nunca é derrota. Matar é que é.

Por isso também entre nós, só pode ser verdadeiro profeta aquele que primeiro desce e depois sobe levando os outros. O que desesperadamente sobe em busca de dinheiro, fama e notoriedade como quis fazer Simão o Mago, dificilmente desce. Pensa demais em si mesmo. Este é o falso apóstolo. O aviso não é para os outros: é para cada um de nós que precisamos saber o que fazer com riquezas, posição e fama, se vierem.

Profeta que mais coleta e acumula do que distribui está trilhando caminho tortuoso. Quem quiser justificar riquezas, tronos, palacetes, recompensas e galardão, vai achar alguns textos. Mas se não ensinar também os textos que falam de pobreza, desprendimento, descidas, renúncias, perdas e cruzes terá deturpado o evangelho.

E chamando a si a multidão, com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me. (Mc 8, 34)

Porque o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos. (Mc 10, 45)

Não faz tempo ouvi alguém a pregar que, se Jesus vivesse hoje também teria aviões e helicópteros e moraria em condomínios porque mereceria... Duvido! Tudo nele falava de kênosis. Foi ele quem disse que as raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça. (Mt 8, 20) Não tinha porque não arrecadava o suficiente ou não tinha porque não queria?

O mestre que lavou os pés dos discípulos. (Jo13,12), o puro e sem pecado se curvou diante da pecadora que permanecia em pé, desceu até nós para nos elevar. (Jo 8,3-11) Não jogou a corda. Desceu e amarrou-nos a Ele. Registre-se esta forma de ascese!



A BOMBA NO SACRÁRIO

Estive, a convite, na abertura dos 50 anos da martirizada e marcante diocese de Nova Iguaçu. Fiz questão de ir. Cantei cantos de cruz, de dor e de esperança. Não será possível escrever a História da Igreja do Brasil das últimas décadas sem falar das igrejas da Baixada Fluminense: entre elas Volta Redonda e Nova Iguaçu, com destaque para Dom Adriano Hipólito e Dom Waldir Calheiros. Não esquecemos os outros bispos, que também os reverenciam. Mas o destaque é para falar de um momento de martírios.

É uma pena que jovens de agora não saibam do que ali aconteceu. Talvez nem mesmo seus catequistas o sabiam. Mas ali se viveu um dos pedaços cruciais da História do Catolicismo no Brasil. O bispo seqüestrado, deixado nu e amarrado à beira da estrada, o corpo pintado de vermelho, pichações nos muros, o carro do bispo explodido à frente da sede da CNBB, uma bomba que explodiu o altar e o sacrário revelaram o grau de ódio e desprezo que aqueles militantes da ditadura nutriam pela Igreja e pela fé católica. Fizeram o mesmo contra Dom Helder Câmara, Dom Paulo Arns e Dom Pedro Casaldáliga. Foram tempos de ir à rua, marchar em silêncio e em lágrimas numa diocese que nascia e já pagava um alto preço por ter escolhido por a ênfase no social e no resgate dos pobres, em região que hoje cresce e promete, mas que, então era dormitório do Rio de Janeiro e onde os pobres eram cada dia mais encurralados num processo de guetização.

Uma Igreja inteira organizou-se. Concordem ou não com sua pastoral, era uma igreja que seguia os documentos do Vaticano II, do Celam e da CNBB. Nada foi inventado ali. O que houve foi a coragem de por em prática o que estava no papel.

O filme dos 50 anos é uma lição de eclesialidade e de humildade. Não se citam nomes, não se pede vingança, não se busca revanche, apenas se lembra o que houve, as dores, o medo, a coragem e a resistência daqueles dias. Há perdão em cada relato, mas há verdade em cada frase. Bispos e padres, irmãs e leigos pagaram alto preço por quererem uma Igreja que ia ao povo lembrar que democracia é melhor do que ditadura. Estavam tão ocupados em ser igreja que não tinham tempo de ser nem de direita nem de esquerda, mas levaram a pecha de uma guerrilha e um terrorismo que nunca fizeram. Havia, sim, uma igreja de comunidades, uma das experiências pioneiras da nossa Igreja; certamente não a única, mas experiência altamente revelante. Em Nova Iguaçu, como de resto em muitas outras dioceses a pastoral saiu do papel e aconteceu.

E foi lá que explodiram Jesus...literalmente. Foi o jeito ateu de mostrar desprezo por uma Igreja que prezava os mais pobres e queria mais democracia. Cinqüenta anos depois, cheia de perdão ela floresce. Quem fez aquelas barbaridades caiu no esquecimento. De heróis não tinham nada. Oura vez venceu a Igreja que perdoa!


Pe. ZEZINHO scj

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2 comentários:

  1. Mais uma vez o Padre Zezinho nos surpreende com a sua palavra certa, na hora certa e do jeito certo...!

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