quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Artigos - 25 de Fevereiro

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MINHAS TRÊS MÃES

Se tenho mãe? Tenho várias! A da terra, que já está no céu e chamava-se Dona Valdivina Messias, foi lavradora e costureira e morou em machado e Taubaté Tenho a do céu, que se chamava Maria, cuidava do lar e era de Nazaré da Galiléia e foi a mãe do Messias. E tenho a Igreja que ainda está na terra e a caminho do céu. Quando falo em mãe, penso nas três, das quais Maria, evidentemente, é a mais santa. Não nasci do ventre de Maria, mas gosto de seu profundo colo espiritual. Nasci no ventre de Valdivina e cresci no colo da Igreja Católica.

Tenho enorme carinho por essas três mães. Das três, só Maria não pecou. Minha mãe da terra era maravilhosa, mas tinha seus pequenos defeitos que não atrapalhavam em nada o seu amor por nós e nosso amor por ela. Nunca achamos que ela era a única mãe maravilhosa do bairro. Havia outras boas mães, que também amavam muito a seus filhos e os educavam muito bem.

Se eu trocaria de mãe? Não! Achava minha mãe maravilhosa, tinha muito orgulho dela e sabia dos seus valores que, de resto, toda a vizinhança elogiava e até hoje elogia. Tive mãe santa na terra e tenho mãe santa no céu. A mãe de Jesus, que era toda pura e esteve muito mais mergulhada no mistério do Cristo era melhor do que a minha mãe da terra. Minha mãe da terra sabia disso e falava com ela o tempo todo naquele terço já gasto de tanto que as duas conversavam.

Agora, porque tenho fé católica, creio que as duas estão juntas no céu, adorando a Deus. A diferença é que minha mãe pede pelo seu filho ao Filho dela e Maria pede ao Filho dela pelo filho da Dona Divina. O Filho de Maria é Filho com F maiúsculo e eu sou filho com f minúsculo. Jesus é mais Filho em tudo. A começar pelo Pai do céu de quem ele veio e se encarnou no ventre de Maria. Digo que também sou Filho de Deus por causa dele. Ele é um com o Pai e eu mal consigo ser um comigo mesmo! Já me dividi não sei quantas vezes, não sabendo que direção tomar. Não fosse Jesus e estas três mães, erraria bem mais do que já errei.

Se trocaria de Igreja? Não. Não acho minha igreja igual às outras, como não achava minha mãe igual às outras. Ela era especial além de ser minha mãe. Havia algo a mais nela. Por isso a fui escolhendo, cada dia com mais intensidade. Fui compreendendo seus limites, deixei de idealizá-la e tomá-la por quem era: mulher feliz e boa mãe. Como só Deus é perfeito, parei de exigir perfeição dela. Já era suficientemente boa, sendo quem era. Foi boa mãe para mim e para meus irmãos.

XXX

O fato de jamais me imaginar rompendo com ela e jamais trocando de mãe não me dava o direito de dizer que as outras não eram mães, nem eram boas. Eu nasci da minha mãe, criei-me no colo dela e à medida que amadurecia, escolhi ser cada dia mais filho dela. Mas as outras mães também fizeram muito pelos seus filhos e eu os via felizes com ela. Aprendi, pela boa educação que minha mãe me dera, a admirar e respeitar as mães dos outros, mesmo não aderindo a elas nem querendo o seu colo. Eu já tinha mãe. Se não a amasse talvez caísse na tentação de buscar outra mãe. Não foi o meu caso. Sempre me dei bem com minha mãe.

Continuo católico, tenho meus limites de pessoa humana, não cheguei à perfeição e à santidade que se espera de alguém na minha idade, mas acho que posso dizer que creio em Deus e o amo, que creio em seu Filho Jesus Cristo, que creio que há um Espírito Santo, que de ambos vem e que, apesar dos meus pecados me ilumina. Creio nos santos que Deus fez e os admiro por terem conseguido o que até agora não consegui. Ser totalmente disponível para Deus e para os outros.

Tenho três mães, duas no céu e uma na terra. Uma delas é Dona Divina que foi minha mãe aqui na terra, outra Maria que sendo mãe de Jesus a quem considero meu irmão maior, eu adotei por mãe. Finalmente há a Igreja aqui na terra, que é uma instituição que respeito e amo. Nem tudo na Igreja é como eu imagino que deveria ser, mas eu também não sou o católico que a Igreja gostaria que eu fosse, porque estou longe de ser o filho missionário que poderia e deveria ser.

Que fique claro quando alguém me perguntar sobre o meu ecumenismo. Sim, não pretendo e nunca diminui minha Igreja e achar que é uma igreja como outra qualquer. É mãe especial. Mas hão de me encontrar tratando bem e respeitando as pessoas de outras igrejas que ser consideram filhos de outra mãe. Um dia aprenderemos a dialogar melhor sobre tudo isso. Naquele dia nenhum cristão se proclamará mais cristão do que o outro. Amaremos e deixarmos que Deus decida isso. Essa história de competir para ver quem arranja mais adeptos e de quem é ou será o maior no Reino dos Céus já foi respondida por Jesus aos fariseus do seu tempo e a dois dos seus discípulos e a todo grupo que o seguia. Quem ainda discute sobre isso, não leu a resposta dele. Deveria voltar ler os evangelhos com mais atenção... É o que fazem os corações verdadeiramente ecumênicos e fraternos... Todos eles têm três mães!



PATRIOTA OU IDIOTA?

Um amigo meu, desses que pegam pesado, mas que têm o mérito de serem cultos e inteligentes, perguntou-me se sou patriota realista ou idiota. Idiotas seriam o que só vêem acertos no país e no governo e, ainda, os que não vêem nada de bom no país em que nasceram. Classifiquei-me como patriota realista, às vezes meio idiota! Há coisas que ainda me confundem.

Entre risos e provocações chegamos a um acordo. O país não vai tão bem quando se alardeia, mas não vai tão mal quanto se propala. Digamos que é relógio que funciona com alguns minutos de atraso por hora. Sem ajustes freqüentes a gente perde o compromisso!

Ainda não somos a democracia que poderemos ser, mas fomos longe: colocamos um ex-metalúrgico-sindicalista na presidência e um empresário na vice-presidência. Tivemos presidentes católicos, evangélicos e ateus. Temos senadores e deputados experientes, alguns deles acusados com provas assustadoras de graves deslizes, temos alguns ex-políticos presos, um ex-governador preso e solto, um governador preso no exercício do poder, alguns juizes e advogados presos por prevaricação, uma justiça lenta mas ainda capaz de reagir, corrupção por todos os setores, mas também gente séria por toda parte.

Indústria forte, comércio ativo, o campo bem organizado, escolas que, mesmo não indo bem, prometem, universidades dignas de respeito, CNBB, CONIC, OAB, ABI, ABR, imprensa ativa, liberdade de expressão com, aqui e ali, alguma censura, igrejas que discordam, mas não se agridem e que muitas vezes trabalham juntas, prefeitos jovens com novas idéias e grande aprovação, uma nova geração de políticos a caminho, economistas que parecem saber onde pisam, e vários bons candidatos postulando a presidência.

Se sou realista? Acho que sim. Sou capaz de elogiar um presidente em quem não votei e de quem discordo em muitas coisas, mas cuja liderança é democrática. Ele certamente fez mais do que eu esperava dele. Dou a mão á palmatória. O sindicalista estava preparado, sim! Também o empresário que ocupa o segundo posto do país. E, o que é bonito, ninguém achou estranho que um patrão aceitasse ser o vice de um operário.

Se o país vai mal? Não. Há bolsões difíceis de controlar e situações que podem nos levar a perigosos confrontos, mas somos um país que dialoga. Bem ou mal, a polícia ainda prende, os promotores descobrem as tramóias, o Congresso ainda funciona e, se soubermos escolher bem, funcionará ainda melhor. Se quero um outro país? Não. Quero este, melhorado. Está melhorando? Está! Com a palavra, os eleitores!



APERTADORES DE PARAFUSOS

No dia 6 de fevereiro, perante mil convidados, 45 jovens católicos, numa paróquia de Taubaté fizeram um pesado juramento de fidelidade a Jesus Cristo, à Igreja e à sua Congregação, os sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus, conhecidos também como dehonianos. Nenhum deles é ingênuo. Eles sabem o que isto significa. Não poderão dizer que não sabiam o que estavam dizendo.

O texto do juramento é forte. Prometeram desprendimento e pobreza, castidade e obediência, e prometeram viver em Cristo, por Cristo e em Cristo, lembrados da misericórdia do seu coração; pelos outros, no meio dos outros e para os outros. Segundo a mística dessa congregação de padres e irmãos, serão pobres, não amontoarão bens, nada terão em seu próprio nome, partilharão o que possuem.

Por amor à Igreja não terão esposa nem filhos, viverão a serviço das famílias, e farão de tudo para não amar “somente a Deus”, como reza uma das canções muito em voga nos templos de hoje. Obedecerão e se colocarão á disposição da Congregação para, se necessário, ir para a África, Europa, a China, para algum lugar pobre ou para qualquer posto onde a Igreja precisar deles. Nada os prenderá a um lugar nem a determinadas pessoas. Cultivarão amizades, amarão seus parentes, mas seu coração será desprendido. Nada terão de seu!

Você já deve ter ouvido a expressão: apertar os parafusos. É que parafusos, com o tempo, afrouxam... É assim a nossa vida. A tendência é desapertar e afrouxar. Os dehonianos seriam reparadores e agiriam como nas grandes companhias, que mantêm uma equipe preocupada com os parafusos. Estes às vezes são milhões. Cuidam para que nada se solte do conjunto e para que parte alguma da enorme fábrica cause dano aos trabalhadores. Apertadores de parafusos previnem acidentes: apertam antes o parafuso se solte.

Firmar o que está afrouxando entres os católicos, impedir que o vaso se quebre, mas, se quebrar saber o que fazer com ele para que volte a ser inteiro, eis a idéia da Congregação dos Dehonianos. A reparação é um processo holístico: une, repara, restaura. Não cuida de apenas um detalhe. É mística abrangente. Dehoniano não se prende a apenas um movimento de Igreja. Serve a todos dentro desse espírito de ajudar a reparar e restaurar. São restauradores, ao menos por vocação.

Seu modelo é o coração de Jesus que veio direcionar, prevenir contra rupturas e, caso aconteçam, curar as feridas e reunir outra vez os pedaços do que um dia foi inteiro. Para isso estudam cerca de 40 matérias no demorado currículo de sua formação. Um dehoniano não ama somente o Cristo e não serve somente o Cristo. Serve-o nos irmãos. Não segue a máxima “Eu e meu Jesus”. Sua máxima é “Ir ao Povo” para que todos possam viver o “Jesus em nós”. “O “meu Jesus” torna-se para ele” nosso Jesus”.

Num mundo dominado pelo crasso individualismo que tomou conta até mesmo das igrejas, é um alivio ouvir de 45 jovens em votos perpétuos que eles entenderam isso: carregarão a própria cruz e as de outros, serão pobres, castos, obedientes, desprendidos, irão ao povo e trabalharão até à velhice sem reclamar do peso da cruz. E se as coisas ficarem pesadas e difíceis não abandonarão o barco em busca de embarcações e portos mais atraentes. Conseguirão? A graça de Deus ajuda! Foi esta graça que eles pediram naquela noite!



PASTORAL DO COPO DE ÁGUA

Rebeca foi escolhida ao dar de beber aos camelos do servo de Isaque. ( Gn 24,14-24 )A samaritana foi convertida por causa de um gole de água. (Jo 4,7) Jesus provavelmente tinha sede quando pediu àquela mulher de outro povo, de outra religião e de outros costumes que lhe desse um pouco de água. Ela não negou, mas achou estranho que um homem judeu falasse com ela, que era samaritana. Ele e não ela estava transgredindo um costume.

E daí? O mesmo homem que lhe pediu água e conversou longamente com ela, também colheu ( Mt 12,1-8) e curou em dia de sábado( Mt 12, 10-13) e quebrou diversas tradições que não faziam mais sentido, enquanto conservou as que ainda tinham sua razão de ser. Por isso disse que se ela soubesse quem ele era, sedenta como era de afeto, iria pedir da água que ele tinha. A mulher já tivera cinco homens e estava no seu sexto companheiro De conversa em conversa ele a convenceu, sem humilhá-la, sem ofender, sem diminuir, sem perder a gentileza. Ela podia ter seus pecados, mas era sincera. Falava a verdade e era boa de conversa. Mostrava franqueza, não mentiu e mostrou que sabia ouvir Fanática ela não era!. Sabia ver valor nos outros. Por isso, foi possível dialogar. Fanáticos, mentirosos e manipuladores que nunca sustentam suas promessas e que se acham os donos da situação, tornam difícil qualquer diálogo. Com Herodes Jesus ficou calado. Não havia verdade no rei. Com Pilatos, falou claro, com os fariseus teve debates intensos, mas com a samaritana foi amistoso, sincero e franco. Ela o fez por merecer. Abriu-lhe o coração.

A conversa foi longa e boa. Tão boa que ela deixou o cântaro lá no poço. e foi buscar gente para conhecer Jesus. Aquilo, sim é que era conversar! Devia ser uma mulher bonita e com alguma liderança. Afinal, encantara seis homens e ali, no ato, trouxe muita gente até Jesus. É de se supor que tenha mudado de vida. Jesus não fazia o trabalho pela metade. Se alguém o acolhia, ele convertia. Forçar, nunca! Ela mostrou-se receptiva e Jesus a recebeu no Reino...

E pensar que tudo começou com um pouco de água á beira de um poço.A água e a conversa mudaram aquela mulher influente. Jesus diria mais tarde que um copo de água dado em seu nome não ficaria sem recompensa. No caso dela, não ficou!

Aprendamos com Jesus a lidar com pessoas de comportamento diferente do nosso,.e com gente que crê e pensa de maneira diferente da nossa. Ternura, franqueza, diálogo, gentileza! Um bom lembrete aos que desejam participar da pastoral da acolhida e da visitação. Jesus começou pedindo ajuda; só depois ofereceu a dele! Teríamos a mesma humildade ?...



O DIREITO QUE NÃO TEMOS

A pessoa humana tem muitíssimos direitos. Praticamente, mais direitos do que deveres. O primeiro dos direitos é o direito à vida. Podemos e devemos lutar por todos os nossos direitos, mais inda, quando se trata do direito de viver. Adendos e anexos a ele estão os direitos de viver em paz, com relativo conforto, num lar e numa casa digna, com liberdade responsável e com o mínimo necessário para uma vida digna. Isso pode nos levar a lutar por mais escolas, mais asfalto, mais água, mais luz e esgoto, terra para plantar, preços mais acessíveis, menos juros, mais segurança, direito de associação, direito de ir e vir, direito de crer, direito de falar, direito de discordar.

Mas há, segundo a Igreja, direitos que não temos, por causa dos direitos que o outro tem. Por isso mesmo, não existe o direito de matar. O motivo é mais do que óbvio. Se todos têm o direito de viver, então ninguém tem o direito de matar, nem o Estado. Pode isolar o cidadão numa prisão, por causa do mal que fez ou pretende fazer. Não pode prende-lo, só porque discorda. Mas, matar, nunca! Somos contra a pena de morte. E somos contra esta pena, não somente para os adultos; ela também se estende ao embrião e ao feto humano. Não temos nem mesmo o direito de matar um embrião, que não parece humano, mas é um futuro adulto.

Quando as mulheres descobrem que estão grávidas vão ao médico, não porque têm uma excrescência indesejável, ou um tumor dentro do seu útero e, sim, porque uma vida se manifestou dentro delas. Pararam de menstruar e foram ter certeza. Diferente da vida delas esta nova vida começou a dar sinais. Mais do que algo, alguém diferente aconteceu no seu corpo. O pequeno intruso pode ter ou não ter sido planejado, mas, a partir daquele momento, a mulher tem deveres que não tinha antes. Toda mulher tem o direito de ser ou não ser mãe, desde que não mate nenhuma vida por este seu direito. Vale dizer que a mulher tem o direito de não conceber ou de conceber, mas, uma vez concebida uma vida, acabou o seu direito de não ser mãe, porque esse direito vai significar a morte da vida que dentro dela começou.

Há direitos que não temos. O piloto, em geral, não é dono nem do avião que pilota, e certamente não o é dos passageiros que entraram no avião que ele comanda. Não viu os rostos, nem sabe os nomes de quem ele vai levar ao destino por eles escolhido. Seu direito de ser piloto a partir da entrada dos passageiros no avião, se transforma em dever. Levá-los, sãos e salvos, ao seu destino. Mulher é como piloto. A vida que se formou nela, não importa como tenha entrado, não lhe pertence. Goste ou não goste, deve levá-la ao nascimento, porque aquela vida não tem culpa do que aconteceu no útero dela.

A Igreja Católica que ultimamente virou saco de pancadaria em certo tipo de mídia e é duramente criticada por sua posição inflexível contra o aborto, faz o que faz porque acha que matar é um direito que não temos. É contra o aborto, pela mesma razão que a faz ser contra a pena de morte. Gostaríamos de nos livrar, de uma vez por todas, de certas pessoas incômodas, mas não podemos. Mesmo assassinas, elas possuem o direito de viver. Se matarmos um assassino, a não ser na hora da agressão e em legitima defesa, faremos o que ele fez com outros e nos tornaremos como ele. Se matarmos um feto, este sim, sempre indefeso, faremos a mesma coisa que fez o assassino: decidiu eliminar alguém porque achava seu objetivo maior do que esta vida humana. Demos o nome que dermos ao nosso ato, o fato é um só: matamos uma vida que se formava dentro de uma mulher. Não era um tumor. Era um futuro ser humano! Simplesmente, não temos tal direito!



OBEDECER CEGAMENTE

Aqueles monges que não obedeceram ao seu líder na neve e usaram da inteligência, salvaram-se, exatamente porque o desobedeceram e porque raciocinaram. Tinham saído com seus cães em socorro de seis viajantes presos numa borrasca. Conheciam o terreno e sempre faziam isso. Mas foram surpreendidos, também eles, por outra tempestade. Seu líder, alterado, garantiu que tinha tido um sonho e que o Senhor durante a noite lhe mostrara um novo caminho. Se todos o obedecessem, todos se salvariam. Teriam que confiar nele! Não confiaram. Profetas, às vezes falam estranho, mas dá para ver quando é profecia e quando é histeria. Ele partiu sozinho e nunca mais foi visto. Eles seguiram o caminho que conheciam e salvaram-se, e aos outros, a quem tinham ido resgatar.

O Papa João Paulo II na sua Encíclica Fides et Ratio fala dessa necessidade de crer e confiar, mas sem perder a lucidez. Fé tem que ser refletida. Obediência obsequiosa de quem sabe dos riscos e das chances é sinal de fé inteligente. Obediência cega, de quem não raciocina e apenas cumpre ordens é burrice. Não é porque o profeta acertou algumas vezes, que acertará sempre. Há uma enorme diferença entre jogar as redes ao comando de Jesus e jogá-las ao comando de alguém que disse que Jesus falou com ele. As igrejas cristãs estão cheias de lideres e fundadores, pregadores e profetas que acertaram algumas vezes e erraram muitas outras. E já teve muitos líderes histéricos que pareciam sábios, mas não eram. Conseguiram tamanha fidelidade dos seus seguidores, que esses abdicaram do uso da razão e esqueceram que só Deus é infalível e confiável. Nenhum homem é redentor a esse ponto! (Sl 49,7) Montano e Donaciano foram dois exemplos.

Profetas, muitas vezes erram. Obediência cega a eles nem sempre é o mesmo que obediência a Deus. Já começa pelo erro do profeta em exigir tal obediência em nome de Deus. É seu primeiro sinal de histeria. Eles vendem o peixe como se fosse a mesma coisa, mas não é. Maria questionou e o anjo teve que explicar. (Lc 1,29) O que ele está querendo dizer? Que tipo de saudação era aquela? (Lc 1,34) Tudo muito bonito, mas eu sou virgem! Finalmente, ela disse ao anjo: “- Que seja como você está falando!” (Cf Lc 1,38) Pareceu razoável. Mais tarde se diz que ela (Lc 2,19) guardava aqueles acontecimentos no coração. Isto é: raciocinava! Raciocinou nas bodas de Caná (Jo 2,1-6) e, mesmo Jesus tendo dito que não era assunto dele e dela, foi em frente. Não foi profecia que o Pai soprou nos seus ouvidos. Ela usou a cabeça e os conhecimentos que tinha sobre o Filho. Não precisou que um anjo lhe aparecesse nem fez uso disso. Se fizesse parte de algumas igrejas pentecostais ou grupos católicos de hoje talvez viesse com a frase:- Deus está me dizendo que vocês devem ir ao meu Filho e fazer o que ele mandar! De repente tudo vira visão, revelação e Deus sopra tudo. Maria sabia a hora da inspiração do céu e a hora do uso puro e simples da sua linda cabeça de mulher. Deus não lhe soprava tudo! Não era uma vida tipo Deus me diz. Deus não diz tudo nem sopra tudo, e Maria sabia disso. Tinha mesmo é que raciocinar e isso ela fazia muito bem.

E foi a sua reflexão que a fez agir. Jesus a atendeu. O mesmo Jesus também aplaudiu a fé reflexiva da mulher de Canaã, (Mt 15,21) e a reflexão do centurião. (Mt 8,5) Eles contradisseram Jesus. Não aceitaram cegamente o que Jesus dissera, exatamente porque tinham fé e suas conclusões lhes permitiam questioná-lo. Ao invés de censurá-los por não terem demonstrado confiança cega, Jesus os aplaudiu! Freqüentemente ele mandava os discípulos raciocinarem e questionar os acontecimentos Chegou a perguntar uma vez se não tinham cabeça para pensar! (Mt 16,9) Porque não entenderam? Não eram inteligentes para perceber que Ele estava falando de pão, mas da malicia que crescia no coração dos fariseus? Obedientes cegos acabam com a mente obtusa porque deixam ao seu líder a tarefa de pensar. Foi isso que os mais de 800 seguidores do pastor Jim Jones fizeram nas Guianas há mais de 30 anos atrás. Não perceberam que ele estava histérico. Confiaram cegamente. Ele os matou a todos.

Está em curso um tipo de comportamento em algumas igrejas pentecostais e dento da Igreja Católica, que aponta como virtude, a obediência cega aos líderes. Até casamento o líder arranja a ponto de decidir quem casa com quem e em que lugar do mundo. Acreditam que Deus diz a ele onde está a sua alma gêmea. Casam ao comando do santo deles sem nunca ter visto a pessoa. Para que namorar se nosso santo diz que vai dar certo?

Consideram-no profeta ou consagrado e imune de erro. Se ele diz que Deus lhes pediu determinada coisa, não questionam. Vão e fazem. E ai de quem discordar do profeta deles. Passam a vê-lo com maus olhos. O menor adjetivo que acham para ele é o de invejoso. E o cristão só estava querendo que pensassem. Aprenderam que discordar é pecar contra a unidade. Não aprenderam que seguir ou dar ordens estapafúrdias também é pecar contra a unidade. O líder que acerta em muitas coisas pode estar errado em algumas. Moisés disse que Deus mandou matar 3.000 idólatras (Ex 33,27-28). Estranhamente seu irmão Arão foi poupado quando foi ele quem construiu o bezerro de ouro. (Ex 32,2-5) Deus certamente não dá esse tipo de ordem. Quem a cumpriu tornou-se cúmplice do erro do profeta. Elias, após haver humilhado e derrotado os sacerdotes de Baal (1 Rs 18,40 ) deu a estranha ordem de matá-los. Seus adeptos mataram 450 deles. Deus não fazia, nem faz tal coisa! Se aqueles adeptos tivessem questionado o momento infeliz daquele profeta, teriam ajudado os profetas a reconsiderar sua ordem e poupado muitas vidas. Mas eram adeptos da obediência cega. Erraram com o profeta.

Que os obedientes cegos de agora aprendam a questionar os seus profetas. Eles nem sempre acertam, nem é Jesus que está pedindo aquilo que eles dizem que deve ser feito. Se querem errar em nome de Deus, que errem sozinhos. Os evangelhos e a Igreja são maiores do que ele! Jesus( Mt 24,24) manda tomar cuidado com profetas que sabem tudo. Tais profetas não existem. Merecem respeito, mas devem ser questionados quando suas ordens certamente vão prejudicar outras pessoas e outros irmãos e grupos da mesma Igreja! Mais fé com mais razão. Lamentavelmente a última tem faltado em algumas comunidades! Tem incenso demais naqueles encontros. E não estão indo só para Deus!

Pe. ZEZINHO scj

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