sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Artigos - 17 de Fevereiro

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PALAVRAS IRRESPONSÁVEIS

Ser preciso e cuidadoso nas palavras é uma obrigação de quem prega, escreve ou conduz o povo. Por mais cuidadosos que sejamos, podemos errar e erramos. Pior ainda, quando a pessoa não se importa de preparar o que diz e, então, fala ao sabor do momento. E alguns ainda caluniam o Espírito Santo, dizendo que foi ele quem mandou dizer aquilo...

Foi o que aconteceu com aquela jornalista de algum lugar interior que, escrevendo uma matéria sobre os santos venerados pelos católicos, descartou tudo o que o teólogo dissera sobre veneração e adoração e saiu-se com duas gafes comprometedoras: - O teólogo disse que a questão dos santos é uma questão venérea, e que o culto de idolatria se refere a Deus.

Outro jornalista de revista grande e conceituada, entrevistando um padre, conhecido como bom e criterioso catequista, sobre o porquê dos novos santos canonizados pelo papa, ouviu do padre a frase: - A Igreja precisa de heróis e modelos da fé, tanto quanto um país precisa de modelos e de heróis da pátria, para motivar a cidadania. O jornalista assim se expressou: - O padre afirma que a Igreja precisa de ídolos para motivar o povo, por isso cultiva a adoração dos santos. O estrago foi avassalador. O padre foi chamado pelo bispo. Felizmente, havia gravado a entrevista. A revista não se retratou. Foi preciso a diocese explicar, na rádio e no jornal diocesano, o que realmente fora dito. Naquela cidade agora se sabe que a tal revista famosa deturpa gravemente os entrevistados. Acabou a admiração pela revista. Diminuiu o número de assinantes.

Pior fez o padre que, um pouco antes do Pai Nosso, disse que Jesus estava lhe dizendo que satanás estava, naquela missa, tentando gravemente uma pessoa da assembléia. Ninguém se manifestou. Ele, então invocou a presença de São Miguel Arcanjo para que, com a sua espada luminosa, que expulsou Lúcifer do Paraíso Celeste, expulsasse aquele demônio.

Palavras imaturas, a) primeiro, porque não é permitido interromper uma missa para trazer revelações particulares de quem quer que seja. b) falou de maneira vaga, sem provar que realmente alguém ali estava possesso. Abusou da boa fé do povo c) falou, sem provar, que Jesus realmente lhe falara d) chamou São Miguel, um arcanjo para salvar alguém, que supostamente estava sendo tentado por um suposto demônio, quando, segundo a nossa fé, Jesus já estava ali no altar. Por acaso Jesus tem menos poder do que Miguel Arcanjo? Tendo Jesus ao lado, será preciso chamar um anjo com sua espada luminosa?

Outro, radialista, após entrevistar um psiquiatra, que com uma equipe da Universidade estudava o drama da pedofilia na internet e tratava pessoas na sua clínica, disse: - Acabamos de entrevistar o psiquiatra e pedófilo Doutor Soares. O psiquiatra pediu meia hora para explicar o que significavam as palavras pediatra, pedófilo, pedagogo. Mas o mal estava feito. O dono da emissora despediu o apresentador pedindo desculpas pelo acontecido. Palavras fáceis e bonitas nem sempre são corretamente usadas.

Convém que pregadores, jornalistas e pessoas que falam ao povo tenham um dicionário por perto. Uma palavra mal usada pode prejudicar meses de trabalho e até a reputação das pessoas. Quem acha que Deus sopra todas as palavras, enganou-se. Ele também abençoou quem escreveu os dicionários e as gramáticas. É questão de consultá-los e anotar o que se vai dizer e o que o outro disse. Dizem que improviso rima com falta de juízo. Na maioria das vezes, rima!





O SÉCULO PASSSADO

Formigas vivem dentro da montanha sem saber nem o tamanho dela, nem onde se situam.
Pássaros a sobrevoam, conhecem seus detalhes e situam-se nela.
Vivi 59 anos dentro do século XX, sobrevoei-o com todas as asas que pude conseguir e não gostei do que vi. Foi um século marcado por grandes conquistas e grandes descobertas, mas o que fez com uma das mãos derrubou com a outra.
Poderia ter sido mais igual, mas não quis. Se quis, não conseguiu!
O homem nunca se mostrou tão inteligente, interventor e transformador e nunca também tão paradoxal, tão estúpido e tão demolidor. Quando daqui a dois ou dez séculos contarem a história do século XX provavelmente o chamarão de século egoísta e sombrio. A cada luz que alguém acendeu, alguém criou uma sombra!




GRAÇA ARMAZENADA

Duas chuvas prolongadas trouxeram um aguaceiro no sertão. Na fazenda Galo Preto aquelas águas se perderam, porque não havia sistema de captação. Na Fazenda Uricoró foram inteiramente aproveitadas. Sobrou água para o ano inteiro. Souberam armazenar.

É assim a graça de Deus. Uma parte, Deus manda. Depois, pode acontecer de não caírem tantas graças. A outra parte depende de nós. Se soubermos armazenar a graça recebida hoje teremos com o que nos abastecer amanhã. Não devemos esperar que chova no sertão toda a vez que alguém precisar de água. Não devemos esperar que Deus derrame suas graças toda a vez que precisarmos delas. Um dia ouviremos a voz de Deus a nos dizer: - “O que você fez com as graças copiosas que eu já lhe dei? Porque as desperdiçou?

É disso que falava São Paulo na sua carta aos Romanos,5,20 a Timóteo ( 1 Tm 1,14) Ela é abundante. Que a graça de Deus não caia em vão sobre nós. Temos que aproveitá-la( 2 Cor 6,1) Façamos com que ela renda, consoante a parábola dos talentos narrada por Jesus ( Mt 25,14-30) Aprendamos a armazená-la. Maria fez isso. Armazenava tudo no coração. Não desperdiçou nenhuma experiência ao lado de seu filho. Não deixou passar e ensinou a não deixar passar. ( Lc 12,19 )

Quem capta água de chuva, porque fez a sua parte, terá frutos, flores e pastagens. Quem deixa perder, fica pedindo que Deus mande outra chuva. Pede o milagre da hora, quando o milagre já veio há meses, mas não foi aproveitado! Façamos como o dono da Fazenda Uricoró. Ter chuva duas vezes por ano depende da estação e do céu. Ter água o ano inteiro depende da sabedoria de quem soube armazenar! Não é muito diferente com a graça de Deus. Armazenemo-la, porque virão dias de canícula!...




INCLUSIVE AS CRIANÇAS

Os bandidos de ontem, que não alegavam defender nenhum país, nenhuma ideologia ou nenhuma religião, às vezes torturavam crianças. Mas sempre houve no mundo inteiro, entre os malfeitores uma lei tácita: crianças, não! A palavra “assassino” veio do Século X, originária dos seguidores de um pregador Assaz, na Arábia. Em dado momento seu ódio político religioso se fez tanto que decidiram que era certo matar qualquer um que impedisse seus projetos, pelas costas, a facadas, a pauladas, família toda, tudo era válido. A Bíblia diz que Herodes fez a mesma coisa. Os hebreus também fizeram.

O ódio enlouquece. O ódio político, mais ainda. O ódio político religioso vai mil vezes mais longe. É capaz de pedir a bênção de Deus para rasgar uma criança no meio. Alguém com três grandes motivos mata qualquer um: em nome de seu ódio, em nome de seu país e em nome de sua fé. O que fizeram recentemente aqueles guerrilheiros tchetchenos foi e tem sido feito com enorme freqüência contra o Líbano de ontem, contra a Armênia nos inícios do século 20, contra os Kolkoses na Rússia, contra os judeus na Alemanha, entre os Tutsi e Watusis na África, em Israel e na Palestina. Não se olhava nem a idade nem o tamanho. A ordem era exterminar, como se extermina os ratos adultos e seus filhotes. Basta que seja rato. Filhote ou não, tem que morrer!

Aí o desatino. Agem como animais furiosos e declaram que todo e qualquer grupo que e eles se oponha é rato, serpente, demônio. Deve ser derrotado e deve morrer. O próximo passo depois de declarar que alguém não tem a luz é situá-lo nas trevas e no inferno. Logo: são auxiliares do demônio. No seu cérebro que já não raciocina, senão em função da sua vitória, para o terrorista motivado pela política e pela religião errada, tudo é demônio, tudo é maligno, tudo o que não reza pela sua cartilha, precisa ser derrotado. Os fariseus que eram fanáticos decidiram que Jesus tinha o demônio. Viram seus milagres e decidiram que vinham do demônio pronto! Tinham o pretexto e a uma justificativa para matá-lo.

Os terroristas de agora seguem o mesmo raciocínio e fazem o mesmo. Acham licito matar, torturar crianças e velhinhos e explodir os outros, porque os outros são maus e eles são bons. Não que necessariamente os outros sejam anjos, mas, de repente, a covardia os ajuda. Não conseguindo vencer o inimigo que tem vasto arsenal, usam da traição, imitam Assaz e tornam-se conscientemente assassinos. Acham que Deus quer que matem. Tomam como reféns as crianças e as mulheres para atingir os outros. Alegam que os outros fizeram o mesmo.

Essa pregação de vencedores em Cristo é extremamente dúbia, como a dos vencedores por Alá ou por Javé. Poder ser muito bonita se aplicada à caridade. Mas na cabeça de muitos crentes ou políticos, vencer muitas vezes não significa vencer-se e sim derrotar os outros. Ouçamos atentamente o que tais pregadores dizem, dia após dia. Leiamos as manchetes de suas publicações. Quando não conseguem dar nenhum elogio à outra igreja, ou a quem não é do seu grupo; quando escondem ou diminuem o sucesso dos outros; quando mostram sempre o seu lado bom e jamais o lado bom de outros povos, outros regimes ou outros grupos podemos esperar futuros terroristas no Ocidente e no Oriente. Alguns deles, motivados por sua religião exclusivista e excludente. Todos os jardins têm flores e ervas daninhas. Às vezes, as ervas daninhas vencem... Já viu o tamanho de algumas urtigas? O mundo tem caminhado para isso. Infelizmente!



VINDE, VEDE, IDE

Jesus era um pedagogo. O melhor! Usou de sinais, mas deu primazia ao conteúdo das palavras no anúncio do Reino. Quando começou este anúncio e se aproximou dos primeiros discípulos conquistou-os, não por milagres ou marketing á base de sinais e frases de efeito ou afirmações bombásticas. Encantou-os o seu diálogo, o tempo que passou com eles, suas explicações e sua catequese de presença inteligente e amiga. A Natanael, conquistou com seu humor e até com sua fina ironia. Seu jeito de explicar as coisas encantou a André, a Pedro e a João, à samaritana, ao político Nicodemos e ao povo, que dizia “Esse aí fala com autoridade”... Para a maioria, bastava sua pregação. Era suficiente para crerem.

Fica, pois, bem mais claro o seu uso das palavras eu vim, eu vou, ide! Poderíamos resumir a missão de Jesus nessas palavras “Vim, vou, vai” Explicou centenas de vezes de quem ele veio e para quem iria. Deixou claro centenas de vezes que estava preparando os discípulos para irem ao povo, ao mundo e, mais tarde, ao Pai. “Ir” é um verbo fortíssimo na pregação de Jesus. E ele fez isso. Ia de aldeia em aldeia, às vezes já de madrugada, anunciar o Reino. Estava sempre em movimento e imprimiu isso nos doze. Ide, dois a dois... Ide a aldeia. Ide preparar. Seu ultimo “ide” foi : “Ide ao mundo inteiro...” Missionário é aquele que vai, nem que seja como Santa Terezinha, padroeira das missões, que não foi lá fisicamente, mas estava lá em espírito e em preces. Sua cabeça pensava nos outros.

O que teria acontecido se Madre Tereza e Dom Helder ou João Paulo II não tivessem ido? Como teria sido a sorte dos enfermos no tempo de São Camilo se ele não tivesse ido? Se ninguém vai lá chamar , como esperamos que eles venham? Por isso diz a Bíblia que são bonitos pés de quem vai anunciar a boa nova. Não caiamos na tentação de achar que falar na mídia, que é uma forma de ir, já é o suficiente. O reino de Deus não pode viver só do virtual. É preciso presença física. O Filho de Deus fez isso. “E-manu-el” Deus conosco fez “shekinah” montou sua tenda entre nós !

No mês das missões vale a pena pensar nessa verdade. Crer sem ir ao outro é crer pela metade. Experimente irrigar sua horta pela metade e verá o que vai acontecer...


Pe. ZEZINHO scj


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