domingo, 17 de janeiro de 2010

Artigos - 11 de Janeiro

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IMAGENS NÃO ME CONFUNDEM

Vejo a celeuma que o culto às imagens provoca em algumas igrejas e movimentos. Lembram os quatro meninos que discutiam sobre uma estatueta do superman. Um dizia que aquela imagem era poderosa e fazia coisas incríveis, o outro ria dele dizendo que imagens do superman não voam nem podem nada porque o superman não existe, o outro dizia que o superman existe, mas as imagens deles não eram ele. O quarto deu a sentença final:- É só um boneco de plástico. Se querem brincar brinquem, mas não briguem por causa dele. Meu pai já explicou todos os bonecos e brinquedos que eu tenho e como eu posso usar e imaginar cada um deles. Não são de verdade. De verdade é que quem cuida de nós é Deus, nossos pais e quem ajuda as crianças...

A mãe, que da cozinha ouviu a conversa, contava-me que depois disso ficou fácil ensinar aos dois filhos o que é ter imagens em casa.

Desde pequeno me explicaram que as imagens são imaginação de gesso, barro ou madeira. Elas apenas representam a idéia que temos de Deus, de Maria, dos anjos e dos santos. Se for idéia errada estará lá naquelas imagens. Se for idéia correta também estará lá.

Cabe aos fiéis aceitar a imagens que ajudam e rejeitar ou corrigir as que atrapalham sua fé. Uma imagem de Maria com espada ou um fuzil nas mãos não seria boa. Uma imagem de Maria sendo levada por anjos para o céu, se bem explicada pode ajudar. Não explicada deixará o fiel confuso.

Chamar os fiéis de fuzileiros e bacamarteiros do Cristo, mosqueteiros de Jesus, guerreiros da luz, pilotos da guerra nuclear contra o pecado, ninjas da fé, cruzados da eucaristia pode até ser linguagem diferente, mas terá que se explicado, porque revela perigosos retornos, crassas idiossincrasias e atrasos catequéticos imensos. Linguagens de guerra de ontem ou de hoje nem sempre ajudam.

Imagens do demônio em forma de dragão sendo esmagado pro espadas luminosas tinham sentido na Idade Média. Hoje ninguém mais tem medo de dragões, nem de demônios do ar, da terra, do mar, da unha encravada e da diarréia. Se tem preciso urgentemente de ajuda cultural, mais do que de exorcismo.

Recentemente entrei numa casa que na parede da sala estampava um quadro de Deus Pai velhinho de barbas brancas, do Filho também ele cabeludo e barbudo, uma pomba no seu peito, Maria ao lado.

Fui abençoar a vovó que não passava bem. Enquanto tomava o cafezinho a dona da casa perguntou se eu já tinha um quadro daqueles. Disse-lhe que não. Mas pedi a ela que me explicasse como o entendia. O que era aquele quadro para ela.

Não se fez de rogada. Disse que Deus Pai que era eterno e muito antigo, mandou o Filho dele que era mais novo ao mundo. Jesus trouxe com ele o Espírito Santo que toca no coração das pessoas. Maria, segundo ela fora gerada pelo Espírito Santo e estava ao lado do Filho para nos dar os recados do Pai e nos ajudar a dar o Espírito Santo quando precisamos dele.

Sentei-me na cadeira, pedi um tempo e entre perguntas e respostas levei quase duas horas para desfazer aquela concepção errada de Deus, de Maria e da ação de Deus em nós. A imagem não fora entendida porque nunca ninguém a explicara. Uma dona de barraca a vendeu, ela comprou, ninguém explicou e a catequese cambaleou.

Imagens não devem nos confundir. Foi difícil explicar aquele quadro antropomórfico que fazia do pai um velhinho de oitenta anos, vigoroso e dominador e punha Maria na mesma altura que Jesus com o Espírito Santo em forma de pomba saindo do seu coração. Coisa de pintor que não foi questionado e além de não ser questionado foi divulgado somos e sua pintura fosse uma catequese católica. Ora, a catequese católica é o oposto daquele quadro.

Mas o quadro é vendido, está lá e ninguém o contesta. Não admira que Dona Zefa tenha inventado sua própria doutrina sobre a Trindade. Naquela casa entrara uma imagem sem antes ter entrado um catecismo.

Podemos ter imagens, mas não se Bíblia e sem catecismo, devidamente lidos. Evangélicos aguerridos ignoram as passagens que as permitem, católicos sem leitura nem estudo as usam sem aprender o que significam e para que servem.

Duas leituras erradas de algo que poderia ser bom! A Bíblia as permite e as condena. O cristão deve saber a diferença.



JESUS CRISTO ONTEM E HOJE

Sou sacerdote e pregador católico. O fato de ser professor de Comunicação há quase 30 anos me levou a procurar as expressões mais corretas quando falo ao povo de Deus. De alguma bênção ou frase dúbia pode nascer uma fé dúbia. Expressar-nos com a máxima clareza, mais do que conselho, é nosso dever quando lideramos o povo.

É a razão pela qual no Natal não mais oro pelas “mais ricas bênçãos do Menino Jesus.” É que Jesus não é mais menino. Cresceu e morreu na cruz, ressuscitou, elevou-se, está no pai e virá adulto no segundo advento. Assim cremos, não há nem haverá mais Menino Jesus. Então eu oro e acentuo: “Ó Jesus que um foste menino”... Meu Natal fica bem mais claro. É memória.

Não falo com imagens. Nem dou a bênção trinitária com a imagem de Maria. Apenas elevo-a. Ela não az parte da Trindade. Uso, porém, o crucifixo, sempre como símbolo e sabendo que aquela cruz não é Jesus. Falo perto das imagens, de olhos fechados ou dirigidos para algum lugar vago, porque sei que, nem Cristo nem santo algum está naquelas imagens. Gosto delas, mas são lembranças do passado que nos ajudam a pensar no presente. Lembram a serpente de bronze que ajudava os hebreus mordidos por serpentes do deserto a pensar em Deus. Deus não era aquela cobra e nem estava nela. (Num 21,7-8) Mas quando no reino de Ezequias ela foi adorada como deus sob o nome de Neustan, Exequias a destruiu. (2 Rs 18,4) Perdera a sua finalidade. Fora transformada em ídolo. Uso imagens, mas não lhes atribuo maior poder que realmente possuem. São simbólicas. Trato da mesma forma as relíquias de um santo. Respeito-as porque estiveram perto de alguém que Jesus santificou e hoje está no céu. Trato-as como ao manto de Jesus. (Lc 7,50) Aquela mulher que tocou com fé foi curada, outros não. Jesus mesmo disse isso. Soube de pessoas que se curaram tocando alguma relíquia. Disse a elas o que Jesus disse àquela mulher: Tua fé te salvou. Não foi a relíquia. Mas elas têm sua finalidade.

Na Eucaristia, sim, creio que ele se faz presente. Ali eu contemplo pão e vinho transubstanciados e falo olhando para eles por crer que não se trata apenas de símbolo. É o próprio mistério da fé. Não faz muito tempo num grande átrio, nave da Igreja lotada, fui até à imagem de Maria, toquei-a e disse: Maria não está aqui. Esta imagem não é Maria. Fui para o outro lado perto da imagem de São Miguel e disse: São Miguel não está aqui. Creio em anjos. Miguel está no céu. Fui, então para o sacrário, apontei para ele e disse: Jesus está aqui. Esta, é a diferença. Aqueles são símbolos que apontam para pessoas santas. Este é sinal de presença real. As palmas do povo mostraram que eles também pensavam dessa forma.

Na oro ao “Cristo crucificado e a morrer” e sim ao Cristo “que morreu crucificado, mas ressuscitou”. As imagens de dor me lembram o passado dele e o presente do mundo. Quis e sofre! Mas distingo muito bem entre o Cristo ontem, hoje e sempre. O povo diz que fica bem mais claro!



JUNTOS E SOLIDÁRIOS

Na Campanha da Fraternidade os católicos foram à rua e prestaram serviços a todas as pessoas carentes, independentemente de que religiões fossem. Não as obrigaram a orar com eles.

Numa outra semana, os evangélicos foram à rua e prestaram serviços a todas as pessoas carentes, independentemente de que religiões fossem. Não as obrigaram a orar com eles.

Na sua páscoa foram os judeus e no ramadã os muçulmanos que foram à rua e prestaram serviços a todas as pessoas carentes, independentemente de que religiões fossem. Não as obrigaram a orar com eles.

Numa outra semana os kardecistas foram à rua e prestaram serviços a todas as pessoas carentes, independentemente de que religiões fossem. Não as obrigaram a orar com eles.


Foi muito solidário e muito bonito. Todos eles ultrapassaram o discurso. Agiram. E eu espero pela semana em que, todos juntos, na mesma praça, nos mesmos viadutos e nos mesmos estádios prestem serviços juntos para mostrarem que de fato conseguem ser irmãos entre si e não apenas com os pobres. Aí, sim, o mundo t era uma chance!...



NÃO ME DEIXES BRINCAR DE PROFETA

Não permitas que eu brinque de ser teu porta-voz. Não me deixes brincar de profeta. Todo pregador, a seu modo é um profeta, mas nem todos são tão profetas quanto pensam ser. Muitos extrapolam das suas funções. Às vezes dizem que disseste o que nunca lhes foi dito. (Jr 14,14) Sonham e acham que o sonho deles é o teu. (Jr, 23,25-26)
Inventam uma obra e gritam de cima dos telhados que tu a queres, quando são eles que a querem.

Não quero gritar ousadamente atrás de um microfone ou diante de uma câmera, que disseste o que não disseste, ou que pediste o que não pediste. Não usarei teu santo nome em vão. Quem fez isso acabou em crise. É terrível brincar de ser teu porta-voz quando não se é, ou inventar recados que certamente não lhe deste.

Quanto aos profetas que dizem falar em teu nome, espero que estejam dizendo a verdade. Deve ser terrível um impotente posar de porta-voz do Onipotente e, ainda por cima, garantir que não está mentindo. É melhor que não esteja!



FÉ FÁCIL

Crer em Deus custou caro para Moisés, para Jacó, para Jeremias, para Paulo, para Pedro e os demais apóstolos, para Estevão, Agostinho, Gregório Magno, Maomé e para milhares de pregadores da sua existência. Todos eles sofreram profundamente enquanto buscavam um sentido para sua fé me Deus.

É do místico e papa Gregório Magno (540-604) a afirmação de que Deus é uma experiência angustiante e que é difícil alcançá-lo, porque ele permanece oculto numa escuridão impenetrável. Nada sabemos sobre Ele. Procurá-lo com sinceridade dói.

Moisés, Jeremias e Paulo tiveram vislumbres. Milhares morreram por afirmarem sua existência. A leitura da vida dos patriarcas e dos grandes santos e místicos mostra que ninguém chega a Deus sem atravessar a barreira do seu ego e a ciladas dos sentidos. Ambos nos puxam para trás. Libertar-se do egoísmo, do conforto e do orgulho dói. Sai-se esfolado da refrega, descrita simbolicamente na luta hercúlea de toda uma noite que Jacó travou com o anjo do Senhor. (Gn 32,35)

Fé fácil teve Salomão que mentiu para sua mãe e começou por matar seu irmão Adonias para não perder o trono. (1 Rs 2,24-28) Matou também quem servira seu pai. Construiu para Deus um templo majestoso e, logo depois, um ainda maior e mais rico palácio para si mesmo. Disse ter visto Deus duas vezes. Foi riquíssimo e teve tudo o que queria, começando pelas suas 300 mulheres e 700 concubinas que, segundo 1 Rs 11,3 lhe perverteram o coração. O rei que viu Deus duas vezes terminou por adorar Astarote deusa dos sidônios.

Com enorme aparato e com eficiente marketing Salomão se fez passar por vidente, todo poderoso, infalível, sábio e justo. A leitura de sua vida mostra um crente que foi deixando de ser bom. A fama, a riqueza e sua falsa noção de Deus o levaram a uma vida de luxo, de ira, de manipulação da fé e das pessoas ao seu redor. Morreu adorando Quemós, Moloque e outros deuses.

Ao que tudo indica não sofreu pela fé. Mudava de Deus a seu bel prazer. Este, o grande perigo da fé fácil e confortável que traz riquezas, fama e sucesso ao pregador. Ele nunca sabe se terminará seus dias no colo do verdadeiro Deus ou do Deus confortável e recompensador que ele criou.

Em tempos de igrejas de resultado e de pregadores que enriquecem a olhos vistos, convém lembrar homens como Gideão, Salomão, Jeremias, Paulo, e Simão o Mago. São histórias sobre quem serviu à verdade e quem a manipulou por riquezas e poderes.


Padre Zezinho, scj

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