quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Artigos - 20 de outubro

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CANTORES REUNIDOS


Falo de canção e de unidade. Há alguns anos atrás, por sugestão de alguns jovens cantores, tentamos formar uma associação de cantores católicos que englobasse os mais antigos, os novos, os mais diversos enfoques e as mais variadas tendências. Éramos mais de 50, vindos de todo o país e queríamos chegar a 100 representantes de movimentos, editoras, e grupos de fé. No futuro, chamaríamos os cantores de outros países latinos. Queríamos a unidade sem a uniformidade. A idéia parecia boa.
Pediram que eu presidisse. A primeira coisa que fiz foi chamar para o grupo de liderança, leigos de diversos movimentos e passar a direção para um sacerdote jovem. Eu seria apenas o mediador, já que, naquele tempo, já cantava há mais de 30 anos e a Igreja precisava de sangue novo. Eu realmente acreditava e ainda acredito nos novos cantores da fé. Bem evangelizados e unidos, com canções que traduzissem a liturgia e a catequese da Igreja, eles poderiam fazer a diferença. Eu ingenuamente acreditava em abertura e unidade. Ainda acredito, só que menos ingenuamente...
Não deu certo. Deus sabe quem foi contra, quando e porque a iniciativa foi abortada. Deus tem os nomes com Ele. Alguém não quis porque aquele diálogo não interessava. Admito a hipótese de que não estávamos maduros ou, talvez, não fosse o tempo. Pode ser que Deus não nos tivesse reservada esta graça. Quem sabe, outro, ou vários outros a realizarão algum dia. Continuo sonhando que, um dia, mesmo depois que Deus me levar, se eu estiver no céu, o que espero que aconteça, verei 100 a 1.000 cantores da fé, não apenas de um movimento, mas de todos os segmentos da Igreja, reunidos pelo menos uma vez por ano, para trocarem experiências e aprenderem juntos o que houve de mais profundo e mais catequético naquele ano. Seria um tipo de congresso ou concílio de cantores. Seria sonhar demais?


SEMEADORES DE CANTOSSANTO


Em algum lugar do mundo estão querendo fundar uma associação de “semeadores de cantossanto”, mas está muito difícil conseguir consenso. Milhares deles ainda não entenderam o que significa semear cantossanto e recusam-se a aprender com os outros. Agem como se eles tivessem descoberto a semente ou chegado primeiro.

É muito bonita a árvore do cantossanto. Dizem que o seu fruto alimenta a alma. Tem diversos tamanhos, cores e sabores. Mas, bem cuidada, produz frutos que acalmam e motivam a pessoa. Na Itália chama-se Albero di Santocanto, na Alemanha, Heiligliedbaum, na França la Saintchanson, na Inglaterra e nos Estados Unidos: Holysong tree e no Brasil alguns a chamam de Cantossanto.

Não se sabe quem foi o primeiro a semeá-la, mas ela existe há séculos em todos os paises do mundo e sempre alimenta a alma do povo na hora da alegria, o louvor, da dor e da esperança.

No Brasil muitos semeadores a trouxeram dos mais diversos paises e cada qual semeou do seu jeito criando novas espécies. Hoje, porém, a quinta e a sexta geração de semeadores nem sequer sabe quem trouxe, de onde trouxe e porque adaptou o seu plantio. Os pioneiros foram esquecidos. Um dia apresentaram a alguns jovens semeadores da quinta geração, um desses semeadores do passado, tido como pioneiro de uma das formas de semear o cantossanto no Brasil.

Um adolescente de um grupo recém formado, desses que não estão nem aí para o passado, disse-lhe a queima roupa:
- Puxa! O senhor ainda existe? Minha vó e minha mãe falam de você, mas eu achei que você já tinha morrido. Lá em casa ainda tem alguns frutos do cantossanto que você semeou.

O velho semeador sorriu, esfregou o topete do adolescente topetudo e disse:
- Viu só como alguns semeadores duram? Tomara que um dia alguém diga isso para você e os frutos do seu cantossanto durem uns cinqüenta anos.

A conversa se prolongou e aqueles adolescentes ficaram sabendo
a- que é meio arriscado considerar-se pioneiro de algo que existe há milhões de anos.
b- que o mundo tem milhões de semeadores de cantossanto e o modo de plantar, regar, enxertar e cultivar pode fazer a diferença entre um fruto e outro
c- que não é fácil cuidar do cantossanto.
d- que às vezes o semeador morre antes da árvore e outras vezes a arvore morre antes do semeador e nem chega a dar frutos.
e- que há semeadores garantindo que o fruto dele sé mais suculento, mais doce e mais duradouro porque é mais do céu e fica mais tempo iluminado pelo sol da fé.
f- que há semeadores desprendidos que não fazem questão de título ou de diploma nem de reconhecimento. Para eles basta saber que o fruto deu certo e que hoje milhões os semeiam, milhões os saboreiam, milhões se encantam com eles e que por mais defeitos que tenham são frutos a ser semeados e distribuídos.

Há, hoje, no mundo muitas indústrias de cantossanto que de certa forma virou produto de exportação e de competição. E isso tem causado conflitos, porque às vezes excelentes frutos não chegam a determinados lares pelo fato de algumas distribuidoras só oferecerem o produto nascido no seu quintal...Por mais qualidade que tenha o cantossanto do outro elas não o divulgam.



A MUSICA SACRA ESTÁ DE VOLTA


Para alegria dos puristas em alguns lugares os bons músicos estão de volta. Vozes bonitas, jeito suave de tocar, eles conduzem a liturgia de maneira serena. Aparecem pouco. Não se sobrepõem ao povo que canta. Estão lá não para se exibir e dar show de virtuosidade, mas cultivam a virtude do serviço fraterno ao povo que canta. É uma alegria ver como tocam suave e serenamente. Mas isso é porque conhecem liturgia e entendem de música. Não se pode esperar o mesmo de quem não treina, não lê os documentos e não entende o que é ser ministro da canção religiosa, ainda que não haja tal ministério oficial na Igreja. Ponha alguém que não é enfermeiro ou dentista para fazer um curativo e ele terá dificuldade. Tem mão pesada. Assim, alguns músicos despreparados que, ou berram ao microfone ou tocam tão forte que parecem em guerra contra o celebrante e a assembléia. Pior ainda: acham bonito!

O ministério da música está voltando, timidamente ainda, com muitos amadores que não conhecem bem a sua tarefa e nem sequer conhecem o catecismo católico. Mas já se vê sinais de seriedade em muitas paróquias. Ás vezes não atuam direito, posto que tocam mais alto do que cantam. Ou utilizam errado o microfone com volume insuportável para os presentes. Já falamos disso. Falta leveza. Suas guitarras ainda são barulhentas demais e atrapalham a oração. Do baterista, nem se fale. Parece estar num concerto de rock ao ar livre. O saxofonista em algumas igrejas toca como se estivesse numa boate. Faz enfeites que em nada lembram um chamado à oração.

Mas já existe aquele que toca com suavidade, ou festivamente se for o caso, mas sabe quando é um canto de júbilo, quando é leve, quando faz pensar e quando a voz do cantor é que tem que aparecer e, também, quando o cantor deve se calar e deixar que o povo cante. Contrariamente ao enchedores de lingüiça que não deixam nenhum espaço livre na celebração enfiando uma música depois da outra pelos ouvidos do povo, eles fazem silêncio na ação de graças para que o povo converse como Cristo que acabou de receber. Naquela hora, respeitosamente o bom músico católico silencia. O outro pensa que o povo foi lá para ouvir mais uma das suas exibições. E ai do padre se reclamar. No domingo seguinte eles não aparecem...

Numa liturgia séria os músicos não brigam para um aparecer mais do que o outro. Conseguem tocar sem dar um show de despreparo. Sua canção é para levar palavras e ressaltá-las. Os instrumentos acompanham e não abafam os cantores. Os guitarristas e tecladistas não tocam gingando...

Está voltando a música executada por gente que entende de música nas Igrejas. Está voltando o verdadeiro ministério da música. Há paróquias pagando seus músicos com uma boa ajuda de custo para que sejam profissionais competentes. Tem sido assim em paises da Europa. No Brasil, algumas dioceses timidamente ensaiam este caminho. Querem os cantos da missa e do casamento bem executados. Enfim, a música religiosa bem tocada e bem cantada está voltando em algumas comunidades. Sobre isto fiz uma canção chamada “Cantor religioso” Falo sobre ela numa próxima conversa, porque, de música religiosa ainda há muito que falar. Tem que ser levada mais a sério do que foi nas ultimas décadas.



HERDEIROS DE SANTO EFRÉM


Na idade média e pelos séculos seguintes, até o século 19, os compositores eram chamados a compor missas, peças clássicas para deleite dos áulicos e dos hospedes do rei. Sua missão era, também, ensinar música para aqueles talentos que aparecessem. Foi assim com Mozart, Bach e compositores famosos. Entre eles houve sacerdotes como Vivaldi e Palestrina na Itália. No Brasil houve um sacerdote negro chamado José Maurício que também compôs peças sacras de elevado valor artístico.

A missão de muitos músicos famosos também era compor “réquiems”, liturgias especiais para os atos solenes das igrejas e catedrais. Eram muito valorizados, muito requisitados e muito admirados. Alguns deles foram um tanto quanto irreverentes, mas outros levavam seu papel a sério. Fizeram disso seu caminho na Igreja, e até caminho na vida de santidade.

Mas o ministério ficou esquecido por um tempo e o velho organista das catedrais, as cantoras dos corais foram substituídos por amadores que não tinham a música como profissão e vida. Dali por diante, na maioria das Igrejas, não só aqui, mas em muitos outros países, alguém que não sabia cantar nem tocar direito, mas que tinha enorme boa vontade fez este papel, porque as Igrejas e os governos já não pagavam o artista. Já não reservavam dinheiro para o cantor do coro, e com isso, a música ficou nas mãos de amadores e voluntários. Num certo sentido, democratizou-se, mas acabou com a profissão de cantor religioso.

Em algumas igrejas estão voltando, aos poucos, os músicos profissionais, cristãos, católicos e evangélicos que assumem esta tarefa como sua profecia. Há padres, reverendos, religiosas e leigos que assumem a arte como tarefa de evangelização. Muitos grupos jovens fazem desse o seu serviço na Igreja, dando shows para multidões, cantando e abrilhantando liturgias.


Pe. Zezinho, scj



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Um comentário:

  1. ''...até parece que o Pe.Zezinho,scj descreveu minha comunidade,quando comentou sobre microfones
    altos demais,cantores sem nenhuma noção sobre,o que é liturgia e nem pensam em estudá-la.Brigando com violões,guitarras,sem respeitar o povo que gosta de cantar,e como é lindo a voz da comunidade!!!Deus me ajude que consigamos levar adiante este projeto musical nas nossas Capelas!!!

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