quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Artigo - Música e Conteúdo

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Falemos de música. Há 45 anos canto e analiso a arte da música, como veículo de mensagens. Assim como analiso as canções dos outros há quem analise as minhas. Nada mais natural, visto que quem canta e publica expõe seu talento na vitrine. Há quem leve e há quem o deixa lá. Mas quem prestar atenção às letras e às melodias das musicas no mundo inteiro, a exemplo de Estados Unidos, Itália, Espanha, França e Brasil, perceberá que nos anos 50, 60 e 70 as melodias eram mais harmônicas, mais cantáveis, mais românticas e suaves. As letras eram mais cultas e elaboradas. Também as vozes eram mais treinadas e escolhidas. A democratização geral da arte que veio com a democratização da mídia abriu espaço para todos os tipos de talentos, os grandes e os pequenos.

Os resultados foram altamente positivos em termos de inclusão de novos artistas e compositores. Mas, com a explosão de músicos, cantores, autores e compositores e a força da televisão que aposta fortemente no estético, houve também espaço para milhões de vozes e de cabeças pouco escolarizadas. O conteúdo empobreceu.

Grande número dos compositores, seja no campo da música laica ou no da música religiosa, não tem suficiente escolaridade e preparo para criar musicas mais elaboradas e textos mais profundos. Percebe-se nos erros de gramática de inglês, de castelhano e de português. Grande número dos novos compositores infelizmente não são amigos de livros e vão mais pela vivência e pelo extinto criador. Isso inclui os religiosos das mais diversas denominações. Poucos se deixam corrigir antes de gravas suas letras. Deixou-se de lado a erudição em troca do som bonito e do ritmo envolvente.Isso explica o fato de que as letras hoje contêm maiores erros de português, muito menos filosofia e muito menos teologia. É claro que há as exceções, mas exceções permanecem. Como um todo houve um empobrecimento cultural na música do mundo. Basta o leitor comparar no mundo inteiro que era sucesso dos anos 50 aos anos 90, na Itália, Espanha, Estados Unidos e Brasil e o que é sucesso hoje, Examinem a mensagem e a gramática.

Melhorou o ritmo, melhorou a inclusão de novos autores, de novos cantores e músicos, alguns com voz preciosa, mas entre mil canções dos anos 50 a 90 e mil canções dos anos 90 até esta data, as de agora perdem de longe em conteúdo filosófico, artístico e teológico. Quem eram os autores e cantores daqueles dias e o que postulavam? Quem são os de agora e o que postulam? É um bom tema altamente polêmico para uma tese de doutorado, posto que revela tendências e caminhos e mostra o poder da mídia sobre o poder da escola. A escola amadurece aos poucos até o dia do diploma. A mídia vende a canção como fruto verde de rosto bonito e de corpo sensual.

Esperemos que uma nova leva de compositores consiga juntar à criatividade e ao ritmo moderno, letras mais profundas e mais bem elaboradas e melodias mais fáceis de cantar. Não é que ontem todas as letras fossem boas e profundas. Não eram! Mas havia percentualmente melhores letras e melhores melodias. A música popular tem os seus méritos, mas a língua portuguesa foi sacrificada, nas telas, nos templos e nos salões. Ganhou em marketing e em balanço, mas perdeu em erudição.

Pe. Zezinho, scj

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