sábado, 21 de março de 2009

Biografia - Parte 4 Músico

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É difícil imaginar os rumos que uma história tomaria se tivessem seus personagens, no passado, optado por outros caminhos. Um exemplo: ninguém se atreve a pensar no que teria acontecido com a Pastoral da Comunicação no Brasil e com a música católica mundial, se em 1968 a irmã Maria Nogueira, então diretora das Edições Paulinas Discos, não fosse à Igreja de São Judas, no bairro do Jabaquara, em São Paulo (SP), para conhecer um jovem sacerdote. Recém-chegado dos Estados Unidos, o padre causava sensação nas missas dominicais, onde havia, além de violão, guitarra elétrica e teclado. A irmã constatou que, como falavam, o jovem tinha mesmo boa voz, sabia cantar e compunha bem. E se chamava José Fernandes de Oliveira, mas disso poucos sabiam – e talvez ainda hoje nem todos saibam –, porque o nome pelo qual ele era conhecido em sua Igreja, e como depois seria também em todo o Brasil, América Latina, Europa e África, era outro: Padre Zezinho, scj.

“Essa parceria com a Paulinas tem sido para mim uma afirmação constante de fidelidade recíproca. Devo muito do que consegui em termos de evangelização à confiança que as Irmãs Paulinas depositaram e continuam depositando em meu trabalho. Por isso, nunca pensei em deixar a Paulinas Editora, a Revista Família Cristã e, em especial, a gravadora Paulinas-Comep. Mesmo quando recebi mais do que uma proposta milionária de outras gravadoras seculares. Não saí nem vou sair daqui porque eu sei que em outros lugares não teria o que tenho aqui: plena liberdade para fazer o meu trabalho. Claro que essa liberdade é fruto de uma confiança mútua. Estou satisfeito com o tratamento aqui recebido e creio que elas também estejam satisfeitas comigo.”

Amor pela música não se aprende. Ele nasce conosco, conosco cresce, aprimora-se, fortalece-se. Foi assim que padre Zezinho, desde os tempos em que era apenas um menino mineiro, que ouvia embevecido os violeiros da vizinhança. Mas a música não era – não é – apenas prazer e descanso.
Pelo contrario; desde cedo padre Zezinho percebeu que ela poderia ser também uma ferramenta poderosa, uma companheira eloqüente para o seu trabalho diário de catequese. Na adolescência aventurou-se tocando órgão. No seminário aprimorou-se com as aulas do padre Germano Better, alemão de formação clássica, que lhe mostrou a extraordinária riqueza e variedade do universo musical. Por suas mãos, padre Zezinho descobriu o canto lírico, a música erudita e a música regional européia.
Mais tarde, nos Estados Unidos e na Europa, conheceu a musica mexicana, o blues e o gospel, a música grega, a italiana e a russa. Dessa curiosidade resultou uma visão ampla e generosa da arte musical; descobriu que as vozes e os tons de beleza são muitos, e para desfruta-los só precisamos ter a alma e os ouvidos abertos. Com o passar do tempo, foi burilando seu talento por meio da experiência e da convivência com os melhores músicos do país.



No seminário aprendeu a tocar violão e compôs, em 1964, sua primeira canção – “ Pai Nosso” - , ainda hoje um sucesso. Foi inicio de um fértil processo criativo nunca interrompido; compunha despretensiosamente em inglês, espanhol e português, sem imaginar que um dia essas músicas seriam cantadas por multidões.Desde o inicio do seu trabalho pastoral, padre Zezinho fez uso da música, tanto nas missas quanto nos encontros que organizou. Suas composições encontraram acolhida imediata junto ao publico e, em pouco tempo, ele gravava pelas Edições Paulinas, o compacto “Canção da Amizade”, de 1970. Mas há controvérsias sobre qual foi realmente o seu primeiro vinil gravado, ainda mais depois da aparição da gravação em LP da narração "O Cristo Inconstante" pela RGE/RCA, em 1969. O Início de sua discografia, ainda é um enigma.


Capa do Compacto "Canção da Amizade"

Foi também nesse ano que começou a fazer apresentações em outros paises, numa iniciativa pioneira: quem aquela época imaginaria um padre cantando num palco?





"As canções jorram como água. É um dom de Deus. Ele quer isso para mim. Se um dia Ele quiser diferente, assim será."















Aos poucos, padre Zezinho tornou-se tão popular quanto os grandes astros do mundo do entretenimento. Ao mesmo tempo em que conquistava platéia, sua musica passou atrair a desconfiança das forças da repressão. Onze das doze músicas de seu disco “Oferenda” foram censuradas, num processo de perseguição ostensiva e irracional – às vezes, o que era aprovado pela policia federal era proibido pela polícia paulista. Certa vez, um censor gaúcho não apenas liberou um disco de padre Zezinho como pediu-lhe uma cópia para os filhos.de toda forma pressionado pelas circunstancias, padre Zezinho exilou-se por seis meses na Europa. Nas Espanha compôs “Por um pedaço de pão” e “Não é Justo”, que alguns anos depois, em 1978 seriam lançadas no Brasil, no LP “Não Deixes Que Eu Me Canse”. São também dessa mesma fase de grandes tensões as musicas de protesto: Sociologia e Faz de Conta.

"O que nós não podemos admitir é a pobreza perpetuada, porque o Brasil é um país rico; no Brasil a pobreza é fabricada, nos países como o deserto do Saara, na Mauritânia, quem sabe em Uganda, na Eritréia, na Etiópia, a fome lá vem da falta de vida, da falta de água, da região desértica. Mas no Brasil, fome é falta de vergonha na cara de quem governa e de quem deveria governar... a fome no Brasil é fabricada, existe gente a quem interessa que o povo passe fome; por isso eles cobram mais ao invés de oferecer produtos melhores, e mais produtos, eles cobram mais caro oferecendo cada dia menos produto, dá mais lucro e trabalham menos... não funciona a lei da oferta e da procura; por isso nós somos os maiores produtores de carne, de grãos, e de alimento no mundo, e somos também um dos países onde mais se passa fome; porque no Brasil há brasileiros que querem a fome do povo, é triste dizer isso, mais é. E se você é um daqueles que lucra mais de cem por cento no comércio e na industria, você está fazendo o brasileiro passar fome...mas faz de conta...faz de conta que um dia esse país vai mudar... "


Capa do LP "Oferenda"






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Recepção ao Papa Bento XVI em maio de 2007 em Aparecida.
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Maria do Rosário


Padre Zezinho com Sylvinha Araújo







" Tornei-me uma espécie de limpa-trilhos: quem veio depois de mim achou um caminho mais tranquilo, é menos agredido do que eu fui."







"Nunca desejei ser um superastro. Sou o que sou, apenas um padre que canta. Aliás, não sou padre porque canto, eu canto porque sou padre."













Mas padre Zezinho não limitou seu trabalho apenas às músicas de cunho social. Em seu vasto cancioneiro – são mais de 1700 composições – encontram-se ainda canções místicas, que procuram conduzir o ouvinte a mergulhar na oração, e canções pastorais, compostas para liturgia.

"Cantar não é fundamental na Igreja. Mas se a Igreja não cantasse seria uma Igreja sem poesia"



Nos anos 90, padre Zezinho passou a comandar ao lado de sua banda, os Cantores de Deus, grandes espetáculos de musica católica, numa continuidade natural dos trabalhos para a juventude iniciados na década anterior. Seu objetivo era atingir mais gente, levar a Palavra de Cristo a um público de todas as idades, de todas as gerações. A iniciativa, pioneira criou raízes, fortificou, seu shows atraem milhares de pessoas, que com seus ingressos contribuem para obras assistenciais de suas cidades. Cantou para o Papa Paulo VI, três vezes para o Papa João Paulo II, uma delas ao lado de Roberto Carlos em 1997 e também foi convidado a cantar para Bento XVI na noite dos jovens na sua primeira vinda ao Brasil em maio de 2007. Sua primeira observação foi: - Agora tenho 65 anos. Não seria melhor chamarem um padre mais jovem? Se acham que devo ir, permitam-me levar um grupo de seis a oito jovens comigo. Permissão concedida. Sua música e suas palavras revelaram-se assim, uma forma bela, emocionante e muito eficiente de tocar a consciência, de fazer refletir; de abrir uma janela para o sagrado e transformar o mundo.



"É impossível se comunicar hoje sem a linguagem multimídia. Quem teima em seguir caminhos antigos perde o público jovem. Tenho certeza de que, se houvesse internet no tempo de Jesus, ele mesmo teria feito uso dela."




Pioneirismo também ao usar recursos de multimídia; lançou em comemoração aos seus 35 Cantando a Fé, um CD ROM que apresentava músicas de grande sucesso, vídeos, primeiras gravações, entrevistas, biografia e discografia.

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